quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Recortes - comunicação social

Crise: Boletim de Inverno do Banco de Portugal
Portugal perde 3,5 milhões por diaA projecção do Banco de Portugal que aponta para uma quebra no PIB de 0,8% significa que a economia portuguesa vai gerar menos 3,5 milhões de euros por dia em relação ao ano passado. A dimensão da perda de riqueza é de 1,3 mil milhões de euros em 2009 mas, face à complexidade e dimensão da crise, o cenário poderá, aliás, piorar.
O Banco de Portugal (BdP) revelou ontem as perspectivas económica para 2009 e 2010 – 'as mais negativas até agora publicadas sobre a economia portuguesa' – e antecipou uma contracção da actividade económica do País em 0,8%.
Segundo o Boletim de Inverno, a crise vai afectar todos as áreas, registando-se quebras no investimento, consumo público, importações e exportações. Em 2009, só o consumo privado escapará a valores negativos (0,4%), impulsionado pela descida da inflação e dos juros.
Resumindo os últimos meses de 2008, o governador do BdP, Vítor Constâncio, confirmou que o País entrou em recessão técnica em 2008, pois houve um 'crescimento negativo para o terceiro e quarto trimestres'. Constâncio confirmou também que os números para 2009 podem evoluir num sentido ainda mais negativo: 'A análise de riscos feita aponta para que, em relação ao cenário traçado, existam 60 por cento de probabilidade de ser pior.'
Apesar de concordar com as medidas adoptadas para controlar a desaceleração da economia, o governador deixou o alerta ao Executivo: 'Não se deve praticar políticas orçamentais que levem o défice acima dos 3%.' E rejeitou descidas de impostos gerais, como o IVA e o IRS: 'Há outras medidas de redistribuição dos rendimentos mais eficazes.'
GOVERNO APOSTA NA DEFESA DO EMPREGO
'Confrontamo-nos, cada vez mais, com um cenário de recessão mundial e europeia. Portugal não é uma excepção. Portugal é, neste aspecto, um país igual aos outros e, por isso, a nossa preocupação deve ser a de reagir, actuar, para minimizarmos os efeitos que a recessão da actividade económica possa ter sobre o emprego'.
As afirmações foram feitas pelo ministro das Finanças, Teixeira dos Santos, depois de o governador do Banco de Portugal ter confirmado o cenário de recessão para 2009 no País. O ministro, que recusou comentar as declarações de Vítor Constâncio, fez questão de garantir que o emprego 'é uma preocupação central' do Governo para este ano, referindo uma série de medidas que vão ser postas em prática para estimular a economia portuguesa.
As iniciativas repetem as que já foram anunciadas por José Sócrates em conselho de ministros, nomeadamente a aposta no 'investimento público e privado', 'facilitar o crédito às pequenas e médias empresas' e 'garantir a criação e manutenção do emprego'. Segundo Teixeira dos Santos, esta iniciativa de combate à crise 'será, sem dúvida, mais eficaz e capaz de surtir os efeitos desejados'.
FUNCIONÁRIOS PÚBLICOS SAEM BENEFICIADOS
Com a inflação a cair para um terço do valor de 2008 (1%), os funcionários públicos vão ver o poder de compra subir em 2009 pois o Governo decidiu aumentá-los em 2,9%. O Executivo estimava uma inflação de 2,5%. Outro dado positivo é a subida dos orçamentos das famílias. 'Neste ano, os que conservarem os seus empregos, e são a grande maioria, verão os seus rendimentos aumentar e poderão expandir ligeiramente os seus níveis de consumo.'n
ATRASOS NAS GRANDES OBRAS
Para Vítor Constâncio, os investimentos anticrise devem concentrar-se 'em despesas de investimento de imediata realização e rápido acabamento', dando como exemplo a construção de escolas. Questionado sobre a pertinência de grandes obras como o novo aeroporto de Lisboa e o TGV, no actual cenário, o governador assumiu que, 'se se mantiver a dificuldade de financiamento, alguns grandes projectos em Portugal e na Europa poderão conhecer atrasos'.
DISCURSO DIRECTO
'EXISTE UM RISCO DE DEFLAÇÃO EM 2009' (Nogueira Leite, Economista )
Correio da Manhã – O cenário é realista ou pode piorar?
Nogueira Leite – São números consensuais, que coincidem com as perspectivas que tinha. Estamos a viver uma situação sem precedentes.
– Os números dão razão ao alerta do PR sobre o endividamento do País? – O endividamento é resultado de uma situação estrutural que vem de trás. É o reflexo da baixa competitividade da nossa economia.
– As medidas anticrise do Governo são suficientes? – Penso que se tem de passar a dar mais atenção às empresas em dificuldades.
– A descida da inflação vai ser positiva? – É positiva, esperamos é que não se transforme em deflação.
– Julga que existe esse risco para Portugal? – Penso que existe risco de deflação.
REACÇÕES
'RECESSÃO PROFUNDA E DURADOURA' (António Borges, PSD)
Para 2009 prevê-se uma recessão profunda e duradoura, que marca mais um ano de divergência em relação à União Europeia. As medidas radicais que o Governo vem anunciando não têm efeito algum.'
'É POSSÍVEL UMA POLÍTICA DIFERENTE' (Jerónimo de Sousa PCP)
Penso que é possível uma política diferente, desde que se deixe de apoiar apenas o sector financeiro e os grandes grupos. Não basta desculparmo-nos com a crise mundial.'
'RAZÕES DE SOBRA PARA BAIXAR OS IMPOSTOS' (Paulo Portas CDS-PP)
Há razões de sobra para que um primeiro-ministro responsável, para que um Governo firme, tente perceber porque é que outros países já começaram a tomar decisões de redução de impostos.'
'DOIS PESOS E DUAS MEDIDAS' (Mariana Aiveca BE)
Só o primeiro- -ministro não queria reconhecer e chegou a insultar os portugueses perante uma crise de dimensão económica e social; o Governo (...) mostrou que tem dois pesos e duas medidas.'
NOTAS
SUBSÍDIO: PROCURA DE TRABALHO
O Boletim de Inverno do Banco de Portugal refere que o subsídio de emprego tem prolongado a procura de emprego dos portugueses, permitindo-lhes fazer uma melhor escolha S. SOCIAL: DEVOLUÇÃO SUGERIDA
O governador do BdP acredita que a devolução, em 2009, das contribuições para a Segurança Social é uma medida 'mais eficaz' do que a descida de impostos gerais como o IVA, IRC e IRS
JUROS: BCE VOLTARÁ A BAIXAR
Vítor Constâncio reiterou a possibilidade de o Banco Central Europeu (BCE) baixar mais uma vez a taxa de juro directora, tendo em conta a conjuntura de queda da inflação
PROJECÇÕES ANUAIS
PESOS 2007 / 2008 (E) / 2009 (P) / 2010 (P) Produto Interno Bruto / 100 / 0,3 / -0,8 / 0,3 Consumo privado / 65 / 1,4 / 0,4 / 0,6 Consumo público / 20,3 / 0,2 / -0,1 / -0,2 Formação bruta de capital fixo / 21,8 / -0,8 / -1,7 / -0,3 Procura interna / 107,6 / 1,0 / 0,0 / 0,3 Exportações / 32,6 / 0,6 / -3,6 / 1,8 Importações / 40,1 / 2,4 / -1,0 / 1,5
CONTRIBUTO PARA O CRESCIMENTO DO PIB (EM P.P.)
Exportações líquidas / -0,8 / -0,8 / 0,0 Procura interna / 1,1 / 0,0 / 0,3 Balança corrente e de capital (em % do PIB) / -9,0 / -7,9 / -9,4 Balança de bens e serviços (em % do PIB) / -8,0 / -7,0 / -7,5 Índice Harmonizado de Preços no Consumidor (IHPC) / 2,7 / 1,0 / 2,0 Fonte: Banco de Portugal Diana Ramos / P.H.G.

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