quinta-feira, 30 de abril de 2009

As Maias

«O dia das "Maias" é o primeiro de Maio, que desde tempos imemoriais se comemora em Portugal e assume diversas formas celebrativas de Norte a Sul. No Minho, Douro Litoral e Beira Litoral (seguindo a lição de Ernesto Veiga de Oliveira- quem mais completamente estabeleceu o painel maiático, reolhendo maieiticamente contribuições parcelares anteriores - in "Comércio do Porto", de 13 de Maio e 24 de Junho de 1958) , a essência festejante está na aposição de giestas (por antonomásia "maias"), às vezes de outras flores, nas janelas, nas frestas ou aldrabas das portas, nos currais, em cancelas, nos próprios animais, nas lojas de artífices, e em camionetes, locomotivas, passagens de nível, barcos e traineiras, ostentando rapazes e raparigas, com as orelhas floridas, os seus melhores trajos.
Em Trás-os-Montes, além de se enfeitarem as portas das casas com flores de giestas, as raparigas adornam um menino que dizem representar o "Maio-moço" e passeiam-no pelas ruas com grande ruído alegre, cantando e bailando em volta dele (Abade de Baçal). Na Beira-Alta e na Beira-Baixa (embora nesta apareça excepcionalmente um boneco de palha) são também rapazes ataviados de giestas quem personifica o "o Maio", retouceiro e sátiro, centralizando o peditório cerimonial em dinheiro ou castanhas.
Na Estremadura, a "Maia" é uma rapariguinha adereçada com flores que percorre as ruas da povoação acolitada pelas companheiras. Nas províncias do Sul a pessoalização também é normalmente feminina. Assim no Alentejo, com particular incidência em Beja. Aqui as "Maias" são meninas que vestem de branco e enfeitam com flores, pondo-lhes na cabeça um coroa de mais flores, e sentando-as em cadeiras, à esquina de alguma rua, nalgum largo ou junto à porta de sua casa. Em seu trono enfeitado de rosas se aquietam algumas horas, enquanto companheiras mais crescidas, com pequenas bandejas na mão, pedem a quem passa: "-Meu senhor, um tostãozinho para a 'maia'!"; ou "Um tostão para a Maia- que não tem saia!" (Manuel Joquim Delgado). No Algarve, em quase todas as casas é costume arranjar-se um grande boneco de palha de centeio, farelos e trapos, que depois vestem de branco e cercam de flores. É a "maia" colocada à vista de quem passa, e em volta da qual se fazem bailes e descantes (Reis Dâmaso)» José Quitério, "As Maias" in "Manjares Rituais em Portugal", cap. III do LIVRO DE BEM COMER (Assírio & Alvim, 1987)
Enquanto qu o hábito de se colocarem giestas amarelas às portas, varandas, etc. não se perdeu, assim como perdura o costume de se fazerem bonecos de palha, será que ainda se encontram rapazes e raparigas, meninos e meninas enfeitados tal como estes textos antigos relatam?
Todavia no 1º de Maio não há só esta tradição ligada aos ramalhetes de maias e aos "maios", a bonecada satírica; também se verificam práticas de "manjares rituais", como por exemplo o costume de se comerem castanhas com o objectivo de conjurar o "Maio", o "Burro" ou o "Carrapato": «Como diz Ernesto Veiga de Oliveira, na faixa ocidental atlântica do país, do Minho ao Tejo, não há nenhuma prática alimentar específica deste dia. Em Trás -os-Montes e nas Beiras Altas e Baixas já o caso muda de figura. Em Bragança, informa o Abade de Baçal que se comem castanhas, para "evitar mordos do burro". Em Rio de Onor - é Jorge Dias que o escreve- no 1º de Maio é costume toda a gente comer castanhas, dizem eles que é para se livrarem das maleitas. (...) em Vouzela as castanhas secas ou piladas chamam-se Maias (...) e em Tabuaço anda pelas ruas, no 1º de Maio, um rapaz muito enfeitado a gritar com uma voz muito prolongada: "-Castanhas ao Maio!..."» (id.)*
in dias com árvores

Sem comentários: