segunda-feira, 25 de maio de 2009

Barragem de Fridão - recortes

Sexta-feira, 6 de Junho de 2008
Barragem do Fridão: o que [me] ficou do debate? Estive presente no debate realizado na Casa da Cultura na passada sexta-feira, 30 de Maio, promovido pela Juventude Socialista. E a partir do que me foi dado ver e ouvir, alinho de seguida 2 ou 3 comentários (...ou melhor, 4!).
1. Clivagem
A clivagem entre os oradores não foi tanto ideológica, como pode ter parecido, mas política, ao nível do processo de decisão. Como havia antecipado no texto abaixo – [2] Barragem do Fridão: questão técnica ou política? - o desencontro entre a visão do político, defendida pelo presidente da câmara de Montalegre, Eng.º Fernando Rodrigues e a visão do técnico, representada pelo Dr. José Emanuel Queirós, viu-se principalmente no estilo de comunicação: mais eloquente e emocional, no caso do político, mais "sereno" e "distanciado" no caso do técnico. Pudemos também experimentar diferenças sensíveis ao nível da oralidade e dos recursos técnicos utilizados já que o Eng.º Fernando Rodrigues "discursou" e o Dr. José Queirós organizou a sua exposição segundo uma sequência de slides de um ficheiro powerpoint.
2. Inquietação
Se a explanação do Dr. José Queirós conseguiu pelo menos inquietar-nos e deixar-nos com dúvidas, o que aliás seria um dos objectivos dos organizadores, a defesa entusiasmada dos interesses locais, protagonizada pelo Eng.º Fernando Rodrigues, fez-nos esquecer os desafios que se nos colocam convocando-nos para uma mobilização que não visa tanto a defesa das questões ambientais mas a negociação das contrapartidas.
3. Paixões
Se me é permitido uma análise mais pessoal, direi que a estratégia do Dr. José Queirós terá falhado não tanto por ter defraudado as expectativas, demasiado optimistas e pouco informadas, de uma parte da assistência. Também não terá sido por ser "de fora" e vir defender os interesses "a jusante" da barragem, como chegou a ser sugerido. O problema é que acabou por ceder à tentação tecnocrata, manchando a sua aparente neutralidade científica, com uma defesa apaixonada das suas convicções, acabando por ter de recorrer ao certificado de habilitações para legitimar as suas opiniões.
4. Tecnocracia
A reacção do Dr. José Queirós aos comentários da assistência acabaram por expressar, do ponto de vista estritamente político, uma atitude tão tecnocrata quanto a do Governo: este não precisou de ouvir a população para decidir avançar; o Dr. José Queirós não reconheceu, a alguns dos intervenientes, suficiente competência para ter uma opinião.
Ora, em política, a legitimidade pertinente, é a que se sujeita a sufrágio, e foi precisamente quando o registo do discurso do Dr. José Queirós passou da neutralidade técnica à emocionada defesa da sua desinteressada participação que o seu discurso foi mais escutado. Como que a dar razão ao que também já expusera no meu post [3] Barragem do Fridão: Razão ou Emoção? * http://mondim-leituras.blogs.sapo.pt/10465.html

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