segunda-feira, 29 de junho de 2009

Artigo de opinião

A abstenção…
No dia 7 de Junho de 2009, realizaram-se as eleições europeias, com uma vitória inquestionável dos sociais-democratas, beneficiando de uma penalização dos portugueses ao Governo PS, levando a uma renovação de combate às legislativas, quando se prensava que o PSD não estaria em condições de discutir as próximas eleições, face à turbulência interna por que passou o partido. Aliás, o Prof. Marcelo Rebelo de Sousa referiu num dos seus comentários de domingo na RTP, que os sociais-democratas tinham de mudar de rumo, tinham que ser mais interventivos, num momento complicado de crise, dirigindo-se especificamente à sua líder, Manuela Ferreira Leite, afirmando que esta, se deveria aconselhar junto dos seus assessores pois não estava a passar a sua mensagem.
Mas o resultado eleitoral das europeias, corresponde a um “cartão amarelo” mostrado às políticas de José Sócrates, pois veio renovar as esperanças do PSD chegar ao poder ou pelo menos ter mais possibilidades de discutir a vitória nas legislativas.
Foram vários os partidos a reclamar vitória, pois fizeram-se ouvir discursos de toda a oposição, o BE teve “a maior votação da sua historia”, porque os votos do PCP são aqueles que o governo “mais teme”, o PP está cá “mais uma vez”, reconhecendo o Governo Sócrates que os resultados foram “decepcionantes”. Sem querer tecer considerações sobre as percentagens obtidas por cada partido nas eleições, quem ganhou ou quem perdeu, há inevitavelmente um fenómeno que continua a preocupar a classe política, que deveria merecer uma grande reflexão de todos, que é o problema abstenção que tem aumentado nas eleições europeias.
1987 – 27,6% - Primeiras eleições europeias 1989 – 48,9 % 1994 – 64,4% 1999 – 60% 2004 – 61,4% 2009 – 63%
Para muitos a explicação está relacionada com a génese destas eleições, que tem pouco interesse para o eleitorado português, uma vez que, apenas se estão a eleger os deputados ao Parlamento Europeu, e que é frequente haver elevada percentagem de abstenção, fenómeno que também se verifica dos outros países europeus.
Mas penso que esta situação terá que ter uma análise mais profunda e incisiva, no sentido de encontrar explicação para isto. Não será responsabilidade dos nossos políticos, nestas eleições apenas se discutiu questões laterais “lavar de roupa suja”, como o problema do Banco BPN, e uma ou outra questão interna, com especial incidência na crítica ao Governo Sócrates, mais pareciam eleições legislativas.
Alguém ouviu na campanha eleitoral, discutir a importância do papel dos nossos deputados no Parlamento Europeu, quando se sabe que as grandes decisões do nosso país são tomadas em Bruxelas. Não seria útil discutir o financiamento do Parlamento Europeu, a aplicação dos fundos estruturais em Portugal, as medidas no combate à criminalidade transnacional, medidas de combate ao terrorismo, medidas para combater a crise mundial, medidas de combate ao desemprego, etc. …
Como é possível alguém reclamar vitória eleitoral perante uma abstenção de 63%, quando mais de dois terços dos eleitores não vota, não se pronuncia, não escolhe os seus representantes. Bem apelou o Presidente da República Prof. Cavaco e Silva, ao afirmar que, quem não vota não pode reclamar e/ou contestar.
Que legitimidade democrática tem os nossos políticos que são eleitos para governar, quando uma grande fatia do nosso eleitorado não vota, não se pronuncia, não confia nos candidatos, conforme se pôde comprovar nestas eleições europeias, pois para além da abstenção, ainda houve 164 mil (4,6%) votos em branco. Isto significa um voto de protesto sobre o estado em que vivem os portugueses, pois deslocaram-se à mesa das urnas e não escolheram o seu candidato, será testemunho de desilusão ou falta de esclarecimento.
Qual a explicação para este status quo, será o sistema politico que está esgotado ou é a classe politica que está descredibilizada? . AM

Sem comentários: